segunda-feira, 23 de abril de 2012

Gaspar em Veneza (Anne Gutman e Georg Hallensleben, 2003)



O casal franco-germânico Anne Gutman e George Hallensleben, criaram uma série de livros muito simpática e um sucesso entre a meninada em processo de alfabetização, chamada Catástrofes de Gaspar e Lisa. Este volume, Gaspar em Veneza, traz com as confusões do cachorrinho ao passear com sua família pela cidade flutuante.

Assim como toda criança se mete em situações difícies, aqui, nesta história, não é diferente: Gaspar se perde de seus pais ao resolver dar “uma voltinha” de caiaque por Veneza e o detalhe, sem avisar a ninguém! Essas coisas são a cara das aprontações dos peraltas que basta os pais piscarem os olhos e se perdem por aí, nos parques, shoppings, praia, supermercados. A leitura traz um assunto interessante para propiciar conversas com nossos “filhotes” sobre como algumas aventuras pode ser perigosas, que devem perguntar antes de fazer algo para evitar que se machuquem, etc. Ou seja, além de entreter e agraciar os olhos, um dos pontos fortes das Catástrofes de Gaspar e Lisa é que sinaliza pelo menos alguma alternativa em como sair de apuros, caso algum dia estejam envolvidos em alguma confusão mais séria.

Acredito que o grande barato deste lindo trabalho de Anne e Georg seja a superação dos desafios que surgem para os protagonistas, a cada livro da coleção. Eles sempre conseguem solucionar algo que, para as crianças pequenas, parecem grandes problemas (e muitas vezes realmente é, como é o caso de uma família perder seu filho em uma cidade desconhecida e sem domínio da língua local, isso é assustador!).

Avaliando o conteúdo técnico/artístico do livro não há como descreditar as ilustrações de Hallensleben, muito bonitas e bem adaptadas aos textos. É o tipo de livro que faz sucesso porque há uma riqueza de detalhes e um conceito estético muito agradável aos olhos de crianças e adultos. Ao que se refere ao editorial, tenho que admitir que seu encadernamento, capa e o tipo de costura das páginas do livro, deram ainda mais charme à obra. Agora, o detalhe que mais gostei, apesar de sutil, é a textura da sobrecapa, porque ao passar a mão, parece que estamos tocando um quadro. É muito bom adquirir um livro que lembra uma obra de arte.

Aqui em casa
Sabrina adora quando leio a história com a voz imitando à do personagem do desenho animado desta série, normalmente uso um leve sotaque francês. Ela ri muito e me chama de Gaspar. Ela se transforma em Lisa (sua melhor amiga), mesmo que esta não apareça na história deste volume. Sabrina age como uma cooparticipante da história, fazendo várias interferências e observações diversas. Tem horas que tenho que falar “e ai, Lisa, posso continuar a história?” E ela responde:"Claro, Gaspar!". Mas, vira e mexe, aparece uma nova observação que me rendem sempre boas risadas. Às vezes ela pede pra pegamos meus guias e mapas de viagem, enquanto leio, ela observa fotos de lugares que quer conhecer, tece mil e um comentários e ainda pede pelo menos mais um livro para ler. "Última história mamãe, eu prometo! Por favor, por favor!".

Reflexões sobre livros que se tornaram animações e animações que acabam se tornando livros.
Gaspar e Lisa estão entre os personagens de desenho animado que minha filha mais gosta. Foi o que a motivou quando avistou um volume da série, na livraria que frequentamos e o que mais me deixou resistente para adquirir. Os personagens da série televisiva e o dos livros são de estilos bem diferentes, apesar de gostar muito do conceito estético do que passa na tevê considero o conceito do livro ainda mais interessante. Por sorte, quando as adaptações seguem o fluxo do mundo das letras para o da televisão nosso coração sofre menos com os sustos. Mas, quando é o inverso, quase todas as adaptações da tevê para o mundo literário infantil são simples reproduções gráficas impresas, sendo nada mais do que o desenho animado em papel couchê, detendo diálogos minimistas e empobrecidos.

Um amigo recentemente me disse que tem certa resistência em comprar livros para as filhas que deram origem à desenhos. Minha resistência já é maior quando o processo é inverso. Temos que ficar atentos mesmo. Tento ser flexível porque quase toda obra literária bacana acaba virando filme, cd, peça teatral, animação. Tento ver um lado positivo, porque adquirir livros com personagens que já conquistaram cadeira cativa na imaginação de nossos filhos pode ser um atrativo ao universo das palavras, mas é preciso  utilizar esse atributo de sedução dos pequenos leitores com parcimônia.

Vale ressaltar que devemos estar atentos com o acervo pessoal das crianças, para que não seja pura e exclusivamente uma extensão das demandas comerciais das mídias de massa. É preciso analisar o conteúdo, a temática e as mensagens diretas e sutis que a obra nos passa. Porque toda bruxa tem que ser má? porque gente má tem que ser feio, com feições de louco, infeliz, mal amado ou invejoso? Por que toda princesa tem que ser bonita? Porque também tem que ser branca, magra e com olhos claros? Porque o final feliz depende de duas pessoas se apaixonarem e casarem? Porque o príncipe tem que ser rico? Porque a madrasta é quase sempre má ou péssima conselheira? É preciso desenvolver a criticidade das nossas crias, de forma leve, gradativa, mas trabalhando essas questões sempre. Para conferir boas dicas de leitura, aconselho uma visita frequente ao site da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ, onde encontramos títulos maravilhosos e altamente recomendáveis: http://www.fnlij.org.br/principal.asp.









Nenhum comentário:

Postar um comentário